domingo, 30 de março de 2008

RESPONSABILIDADE MAÇÔNICA




A questão da responsabilidade maçônica não pode ser tratada de modo simplista e sem base no fundamento filosófico.

Lembramos aqui que a Maçonaria sempre foi o fórum ideal para a discutir-se a problemática da sociedade em que vivemos, como bem atestam as contribuições da Ordem à história universal, o que se retorna a praticar agora, em nossos tempos, como bem demonstra a realização deste evento proposto pelo Grande Oriente do Estado de Mato Grosso, onde uma Loja de Obreiros visita a co-irmã levando luzes para efetiva conscientização dos irmãos.

Nas Lojas Maçônicas, a discussão filosófica e os conteúdos críticos da sociedade, são relativamente pequenos em função da ritualista das sessões cotidianas, e também os assuntos administrativos das mesmas. Repetindo a indagação o que maçom está fazendo hoje em termos de responsabilidade social, deixo no ar para que cada Irmão, com base nas suas ações particulares, proceda a necessária resposta.

Temos consciência que a Ética é você ser responsável por você, por seu próximo e por onde você vive.

Nós, os maçons, temos condições de gerar atitudes e condições de responsabilidade social, acrescentando que a nossa ação é reflexo da nossa responsabilidade; a nossa responsabilidade é reflexo da nossa consciência, por isso é que os maçons deve gerar ações que integrem a maior lisura, uma lisura que ninguém mais tem no mesmo nível.

Temos que marcar a diferença, haveremos de tornar todas as pessoas tão conscientes como nós. Temos que ser diferentes, senão seremos apenas profanos aparamentados maconicamente.
É de fundamental importância que os Maçons assumam sua condição de Maçons, pois nossa responsabilidade social é baseada na ética e na consciência pessoal.
Construir uma sociedade justa demanda esforço de todos os segmentos, principalmente das instituições que têm papel filantrópico, fraterno e educacional. Então, o ato de preparar adequadamente pessoas que vão atuar como formadores nas mais diversas áreas do conhecimento assume um papel dos mais relevantes no mundo contemporâneo.

Neste sentido para um maçom bem exercer tal função, exige-se que ele tenha vocação pelo ato de ensinar e que seja bem preparado para o seu desempenho maçônico. Portanto, é mister não se perder de vista a necessidade de preparo humanístico aliado ao domínio da técnica, para se formar maçons comprometidos com a sociedade. Somente os Estudos podem oferecer a instrução tão necessária para o progresso dentro e fora da Maçonaria.
Usando palavras e indagações do estudioso Ir.'. Walter Fachetti, as Oficinas, sem exceção, discutem minúcias de procedimento ritualístico e o sexo dos anjos, ao mesmo tempo em que se transformam em entidades beneficentes, clubes de serviço ou passarela de vaidades.
A Fraternidade, minada pela falsidade e egoísmo de muitos Irmãos, está transformando a Loja Maçônica em lugar pouco freqüentado, onde somente se ouve o bater dos Malhetes ecoando no vazio. Seria o fim da Irmandade e de seus ensinamentos milenares?
Deixamos de participar da História para vivermos apenas das glórias do passado?
Somos agora conduzidos, nós que sempre conduzimos?

A verdade incontestável é que a sociedade está doente, e tal doença afeta todas as instituições. A Maçonaria não está imune. Os noticiários de televisão mostram, cotidianamente, a morte estúpida de jovens por outros jovens dentro das escolas, ou por traficantes, doentes mentais, e até mesmo por parentes dentro de suas próprias casas.
A freqüência com que isto está ocorrendo demonstra que a juventude do mundo está em crise, e a crise da juventude faz parte da doença da sociedade em que vivemos.
Tem sido quase que normal olharmos a televisão e vermos noticias de jovens sendo mortos por motivos banais e muitas vezes sem motivos, isso tem mostrado a face de nossos tempos.
A alguns anos vimos a filha matar os Pais com a ajuda do namorado sem demonstrar nenhum remorso, hoje vimos ela brigando pela herança dos pais que ela matou.
Pais chorando a pena de morte em que foi proclamada aos seus tão amados filhos pelos bandidos.
Deformações morais e emocionais, frutos da desídia dos pais ao educar seus filhos, tomou todo o mundo refletindo-se na televisão e na imprensa através de cenas chocantes de violência, miséria, loucura, desespero. Dizem alguns sociólogos que, por vivermos à sombra de uma virtual hecatombe nuclear, com ogivas atômicas em número cada vez maior, que podem ser disparadas até acidentalmente, leva o jovem a desconsiderar qualquer espécie de futuro, voltando-se para as drogas, fragmentando-se em gangues violentas, renunciando à moralidade no agir.
Se no passado existia em nosso País uma sociedade escravagista, onde os coronéis eram imunes às leis e se constituíam numa casta de privilegiados, hoje o neocoronelismo continua a existir. Usando ternos importados, gravatas Hermes, celulares e computadores de última geração, utilizam-se dos fundos públicos, da corrupção, do nepotismo descarado e vergonhoso, para obter fortunas monstruosas, enquanto os párias da sociedade morrem por falta de comida, remédios e trabalho.
Num mundo onde ocorrem rápidas e profundas mudanças sociais e econômicas, tradicionalistas persistem em pregar ideologias ultrapassadas, enquanto a pobreza continua aumentando a exclusão social, os chamados mercados globais tumultuam a economia mundial, cresce a criminalidade e a impunidade, acentuam-se os conflitos. Não podemos ignorar as mudanças que ocorreram no papel da mulher dentro da sociedade, nem o colapso da célula familiar, nem a violenta revolução tecnológica que afeta o mundo do trabalho. Mais do que nunca a exigência de reformas democráticas profundas se faz ante a hostilidade popular à política.
Nossa Ordem não pode sujeitar-se aos parâmetros que lhe estão sendo impostos pela sociedade civil. Nossas Lojas precisam unir-se pela ideologia, independente de Potência, e lutar pela modificação estrutural de nossa organização social. Precisamos repensar as formas de representação política e, sob a égide de um plano de metas elaborados por TODA a Maçonaria, começarmos a lutar pelo futuro da humanidade.
Dentro deste contexto a EDUCAÇÃO torna-se prioridade máxima, aliada ao conceito de RESPONSABILIDADE. Somente se elevarmos os padrões morais e culturais do povo através da educação é que conseguiremos equilibrar os DIREITOS e DEVERES de cada um, dando ensejo ao surgimento do respeito ao próximo.
O Poder Judiciário deve tornar-se o paradigma da confiança e da justiça, punindo erros com rapidez e eficiência, sem burocracia, pois somente assim defenderá os oprimidos e injustiçados.
O Poder Executivo deve aprender a trabalhar em parceria com os setores privados e voluntários, dividindo responsabilidades, incentivando o social e o respeito às Leis.
O Poder Legislativo precisa sofrer profunda modificação conceitual de modo a perder sua função corporativista e produtora de leis inúteis, crescendo nos debates das causas nacionais.

Nós homens conscientes, agindo assim, tornaremos um quarto Poder: o Poder Fiscalizador, buscador da transparência tão necessária.
É preciso mais do que simplesmente a boa vontade para que se produza um maçom, homem equilibrado, capaz de levar “luz” por onde for, pensando, falando e agindo de acordo com as regras mais aceitáveis, seja na família, seja em qualquer dos outros possíveis grupos sociais nos quais esteja inserido.

Talvez esta afirmação possa nos ajudar a entender a tão lida e falada resposta quando nos é perguntado: “... para que nos reunimos neste Aug:. Templo?

A resposta já tão conhecida, nos vem automaticamente: “...para combater o despotismo, as tiranias, os preconceitos, as injustiças, a ignorância e os erros; para promover o triunfo da Verdade, da Liberdade e da Justiça; para pugnar pela evolução do Homem, o bem estar da Pátria e da Humanidade, levantando Templos à Virtude e cavando masmorras ao vício.”

Alguns de nossos IIr:. mais jovens, pouco tempo depois da iniciação ou ao longo do caminho que lhes conduz à condição de Mestre, encontram-se tão amargurados que é difícil não perceber alguma falta de estímulo neles, que, não raro, abandonam os trabalhos maçônicos ou os mantêm de maneira pouco aceitável.

Para que não fique restrito aos “mais jovens” o que comentamos, há experiências também com os “mais velhos”.

Certa vez, ao término de uma palestra que proferimos, um Irmão confessou, de maneira emocionada e discreta, que acabava de recuperar algo do “velho ânimo” que o tempo, a incoerência e a falta de estudos tinham quase sufocado nele.

Por nos tornarmos Mestres Maçons, não poderemos de maneira alguma ignorar as nossas imperfeições humanas. Haveremos sim de detectá-las e combatê-las.

Na sua inteligente obra “Fedro”, o pensador Platão assevera:

O homem pode converter-se no mais divino dos animais, sempre que se o eduque corretamente; converte-se na criatura mais selvagem de todas as criaturas que habitam a terra, em caso de ser mal-educado.

Comumente ouve-se por aí a seguinte afirmação: A maçonaria não é um reformatório. Não concordamos de maneira alguma com essa insensata fala, vez que somos todos sabedores que a Maçonaria é uma Escola, e o papel fundamental da escola é justamente o de reformar, reorganizar, corrigir, dar melhor forma, consertar, restaurar. Isso é educar.

O que é educar? Recorramos a um dicionário para que não nos classifiquem como intelectuais que usam livros inacessíveis. Duas acepções nos ajudam no momento:

• Dar a alguém todos os cuidados necessários ao pleno desenvolvimento de sua personalidade;

• Transmitir saber a; dar ensino a; instruir.

Podemos entender, a partir da idéia platônica exposta anteriormente, com a ajuda das acepções do dicionário, que o Maçom pode se tornar mais coerente, em relação à Maçonaria, caso haja, sobre ele, a ação de educadores.

Quais seriam, na Maçonaria, os educadores?
Resposta instantânea: Nossos Mestres.

Não havendo insistência no trabalho educativo mais amplo, mais completo, indo além da simples promoção de leitura de fragmentos de nossas instruções, o processo educativo ou de desenvolvimento fica ameaçado, dificultando a transmissão e a preservação dos conhecimentos, valores e habilidades mencionados pelo Sociólogo Ely Chinoy e transcritos abaixo:

Seja qual for seu impacto em determinado ambiente, a educação realiza importantes funções gerais. A sociedade como um todo, proporciona a preservação e a transmissão da cultura. Consoante a observação de Ernile Durkheirn, e “acima de tudo o meio pelo qual a sociedade recria perpetuamente as condições da própria existência” (Educação e Sociologia, 1956). Transmitindo de uma geração a outra, crenças firmadas, conhecimentos, valores e habilidades, concorre para a continuidade e a persistência de urna vida social organizada.

Não dar a devida atenção à educação dos Maçons é ameaçar o futuro da Ordem.

O reflexo da seriedade do processo educacional maçônico dá-se em nós mesmos, em nossas Lojas e em nossa potência.

Quando não preparamos o senso crítico dos “alunos”, eles, movidos apenas pela vontade de aprender, buscam respostas desordenadamente, o que explica, na Maçonaria, a abundância de literatura rasteira, a discussão de temas ocultistas, a ignorância de fatos históricos, a mistura de alhos com bugalhos, a decepção (ou a amargura) e outras “barbaridades” que, acontecem em todas as nossas Lojas;

Estas indagações surgem ao sabor de nossa fala:

Como empregar os Maçons na “construção social” sem antes prepará-los para o trabalho?

A quem cabe a responsabilidade de preparar construtores para a “obra”?

Seria abuso indicar que cabe aos Mestres? Talvez não, já que têm (ou deveriam ter) o domínio da “arte”, corno forma de perpetuá-la e de difundir os seus efeitos pela sociedade.

A Maçonaria é “apenas” um sublime processo, para o qual a matéria-prima, que é o homem, seja conduzido pela mão amiga de um Mestre que o orienta sem comprometer seu desenvolvimento, até que ele possa “andar com as próprias pernas”, servindo para aquilo que se propôs na noite de sua Iniciação, a saber: a “construção social”.

A Maçonaria é responsabilidade dos Mestres!

Paremos agora para pensar, e reflitamos a nível profundo: Se a Maçonaria não vai bem (na prática), nós devemos reavaliar os nossos métodos de operacionalizá-la, pois realizar pouco ou mal aquilo que tem grande potencial (que somos todos nós) é algo como manter um gênio criativo amarrado, amordaçado e vendado.

Não havendo um número suficiente de Mestres prontos para esta abordagem mais “ampla” na educação maçônica (existem Mestres maravilhosos), a solução mais simples e acessível parece ser o apelo à Filosofia, para que não haja mais perda, como as citadas anteriormente, promovida pela literatura rasteira e os “achismos” insustentáveis.

Conhecendo o desenvolvimento do pensamento ocidental, através da História da Filosofia, algo já pode ser mudado, surtindo efeitos a curto prazo.

O senso comum não pode imperar entre os buscadores da Verdade (não confundamos senso comum com consenso). A Filosofia é como a liberdade, quando experimentada pela primeira vez. Depois da experiência, o retorno a restrição é inaceitável. Apresentemos a Filosofia aos homens livres e de bons costumes. O resultado não pode e nunca será negativo.

Hoje, com a Internet e muitas facilidades para a aquisição de livros de bons autores, corno Bertrand Russel, Richard Tarnas, Will Durant, Hegel, Finley, além de coleções populares corno Os Pensadores, da Abril, e obras didáticas como as da professora Marilena Chauí.

Temos como exemplo um Irmão de nossa Loja, Ir:. Zanizor Rodrigues, reconhecido Médico Psiquiatra, professor catedrático de medicina da nossa UFMT e palestrante, que após muitos anos como profissional na área médica, fez vestibular para Filosofia, passou, freqüentou assiduamente o curso, e no dia 25 de março deste ano colou grau como Bacharel em Filosofia. Segui os seus passos, e estou cursando o primeiro semestre de Geografia na mesma academia federal. Estamos em busca de luzes para espargi-las.

A propósito, como vão as bibliotecas de nossas Lojas? Pois é, a grande maioria pode estar cheia de pó e de obras maravilhosas, fantásticas, onde a Maçonaria aparece romanceada a ponto de parecerem livros “paulocoelhanos”, de leitura agradável, mas sem fundamentação histórica satisfatória ou aplicação perceptível no contexto da “construção social”.

Que tal um “banho” de livraria como primeiro passo?

Depois, podem surgir grupos de estudo e pesquisa. São muitas idéias...

Busquemos algo mais que apenas os Rituais jogados ao nosso peito.

Lembremo-nos que o que parece difícil para o dito profano é tarefa normal para o maçom. Precisamos de compromisso com o aprendizado. Precisamos formar maçons mais completos, pois os desafios do presente não são como os desafios do passado.

Cada Mestre que promova a “arte” como puder, mas que não a deixe de lado, enquanto o mundo dito profano invade nossas Lojas com seus vícios, quando na verdade, iluminados pela luz da Razão, deveríamos invadir o mundo profano, com nossas virtudes desenvolvidas (melhor realizadas), para ajudar na sua evolução.

Promover boa educação maçônica, é a primeira responsabilidade e fiel compromisso dos Mestres, é, acima de tudo, colaborar para a preservação da Ordem, pela sua continuidade sem a inserção de elementos estranhos aos seus ensinamentos universalmente aceitos.

Existem IIr:. Maçons derrotados porque “correm atrás de coisas vãs”. Acorde! Coloque o seu pé no chão. Lavre a terra, sue e camisa. Não fique na arquibancada da vida torcendo para que tudo aconteça. Entre e participe.

O G:.A:.D:.U:. vai abençoar o que você acha que merece e pelo qual está disposta a lutar.

Acreditar em Deus não significa ficar de braços cruzados, esperando que o sucesso caia do céu. O verdadeiro sucesso não é um grande acontecimento, nem uma única e grande vitória. O sucesso que o Supremo Criador oferece é composto de pequenas vitórias diárias.

Correr atrás de fantasias, esperar um “golpe de sorte”, ou uma “herança” é falta de senso, loucura, ingenuidade. São as pessoas que agem assim que formam a longa fila dos derrotados.

Sistematicamente ouvimos dos irmãos: Onde haveremos de buscar inspiração e sabedoria para o trabalho maçônico? Respondemos sempre que num livro inspirado por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. Esse livro está depositado e aberto lá no altar: O Livro Sagrado.
M:.M:. Antônio Padilha de Carvalho
Bibliografia

ALMEIDA, Nilton Figueiredo; Célia Caccavo F. de Almeida, José Carlos Pinheiro Alves; O Último Minuto – Especulação Filosófica” – Racionalismo Cristão – 1992;

BIBLIA SAGRADA, Tradução João Ferreira de Almeida;

BUENO, Silveira, Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, Fename/MEC – 11ª Edição; Brasília-DF; 1983

BULLÓN, Alejandro, Janelas para a Vida , Casa Publicadora Brasileira – Tatuí-SP – 1ª edição – 2007;

CHYNOY, Ely. Sociedade - Uma Introduções a Sociologia, São Paulo : Cultrix, 1984.

HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro : Objetiva, 2001.

KARDEC, Allan , O Evangelho segundo o Espiritismo – Editora IDE – 324 edição – Araras-SP;

Um comentário:

josuel farias disse...

Este trabalho muito bem apresentado, nos faz realmente refletir sobre a máxima já citada de que: Justa e perfeita é a maçonaria. Não é o maçon. Este quando muito avançado, está buscando ainda a perfeição.
TFA
Josuel Farias
Recife-PE